sábado, 31 de diciembre de 2016

Efeitos Memorando (Terceira parte)

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CHIPRE: HISTÓRIA DO FRACASSO POLÍTICO E ECONÔMICO DE UM PAÍS

OS EFEITOS COLATERAIS DO MEMORANDO: A VENDA A PREÇOS DE SALDO DAS SUCURSAIS GREGAS DOS BANCOS CIPRIOTAS

CAPÍTULO TERCEIRO: O PERFIL DO BANCO DO PIREU E AS RAZÕES PROFUNDAS DO SEU "SUCESSO" (MARÇO DE 2013)


INTRODUÇÃO

Desde a antiguidade clássica, a importância de uma gestão ética dos assuntos públicos tem sido salientada por filósofos e escritores em obras que preconizavam um modelo utópico de Estado onde os cidadãos mantinham uma atitude participativa. Na actualidade, a recuperação da centralidade da política - relegada a um papel marginal devido às estruturas sociais complexas - acaba por ser o principal objetivo de movimentos e partidos alternativos que ignoram que o problema é principalmente de natureza financeira e deve ser resolvido com as armas da economia.


OS DETALHES DA ESPOLIAÇÃO: AS REACÇÕES DAS AUTORIDADES CIPRIOTAS 

O acordo com o Banco do Pireu para a venda das sucursais gregas do Banco do Chipre, do Cyprus Popular Bank e do Hellenic Bank se enquadrava num plano de redução drástica do tamanho do sistema bancário cipriota que superava sete vezes as dimensões reais da economia nacional. A operação foi saudada com entusiasmo pelo ex-governador do Banco Central do Chipre Panikos Dimitriadis que afirmou que o negócio tinha fechado em termos satisfatórios para os interesses do País já que o montante arrecadado (524 milhões de euros) correspondia a 66% do valor estimado dos três bancos. No entanto, Dimitriadis caiu em uma contradição óbvia ao admitir que cerca de 500 milhões tinham sido devolvidos aos credores (BCE / Banco Central de Chipre), que em 2012 tinham concedido a Cyprus Popular Bank uma linha de crédito extraordinária (ELA, Assistência de liquidez de emergência). Além disso, altos funcionários do Ministério da Economia jogaram um balde de água fria no otimismo das elites financeiras cipriotas observando que as condições de venda eram muito melhoráveis. Além disso, os máximos dirigentes do Banco do Chipre lamentaram que a liquidação das suas sedes gregas tivesse gerado perdas de cerca de 2 bilhões de euros. 

O convênio foi ratificado "ipso facto" pela Direcção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia.



O COMUNICADO OFICIAL DO BANCO DO PIREU E OS BENEFÍCIOS ECONÔMICOS DA AQUISIÇÃO

Após a conclusão das negociações, os membros do Conselho Executivo do Banco do Pireu afirmaram que a venda tinha sido proveitosa tanto para a entidade que assim expandia a sua rede na Grécia, como para as três instituições de crédito cipriotas que tinham cobrado uma quantia muito maior que a que tinham recebido outros bancos estrangeiros para transferir a terceiros suas atividades em território helénico. Para este fim, deve-se notar que o comprador obteve um lucro líquido de 3,6 mil milhões de euros, devido, principalmente, ao fato de que a quantidade paga pela aquisição das sucursais gregas do Banco do Chipre, do Cyprus Popular Bank e do Hellenic Bank foi muito menor do que o seu valor de face (a diferença foi calculada em cerca de 3,4 mil milhões de euros, o que na linguagem financeira é definido com o termo de deságio). 

As conversações com os licitantes (Alpha Bank, Banco Nacional da Grécia, Banco do Piréu e Banco Postal Helénico) foram abordadas pelo Fundo Helénico de Estabilidade Financeira que exigia que o processo de adaptação das três entidades cipriotas na nova realidade fosse completado com rapidez e eficácia. No seu comunicado oficial, o Banco do Pireu justificou sua escolha mencionando uma série de operações empresariais que resultaram na aquisição de mais de 15 grupos de crédito ao longo dos últimos 15 anos: o caso mais assombroso ocorreu no verão de 2012, quando o governo do conservador Antonis Samarás cedeu a essa companhia a parte boa do Banco Agrícola da Grécia para a módica quantia de 95 milhões de euros, enquanto o Estado, devastado pelas políticas destrutivas do Memorando, se comprometia a cobrir o risco de crédito. Na primavera de 2013, aconteceu outra façanha histórica: a absorção da subsidiária ateniense do Banco Comercial Português - que desde 2004 opera sob a marca "Millennium" - por um milhão de euros. O preço de venda tão baixo foi atribuído às enormes dívidas com a empresa-mãe que recapitalizou a sucursal através de uma injecção de 400 milhões de euros. Nesta altura, é necessário analisar os factores que determinaram o sucesso tão repentino de um banco que em 2012 tinha sido muito afetado pelo perdão de 50% da dívida soberana grega.


AS RELAÇÕES AMIGÁVEIS ENTRE OS DIRIGENTES DO BANCO DO PIREU E DO CYPRUS POPULAR BANK E A PASSIVIDADE DO BANCO DA GRÉCIA

Uma análise acurada sobre este escândalo deve ter em conta as regras não escritas que regem o funcionamento da sociedade grega e determinam a partição do poder entre aqueles que estão mais estreitamente ligados às famílias que têm dominado a cena política e económica do País nos últimos quarenta anos.

A história deste assunto muito obscuro remonta a 2001, quando o empresário grego Andreas Vgenopoulos, administrador da holding "Marfin Investment Group" adquiriu o Prime Bank, uma pequena entidade financeira de propriedade do Banco do Pireu, que foi renomeado Marfin Bank. Em 2006, o magnata ateniense assumiu 21,6% de Cyprus Popular Bank e reforçou o seu poder econômico: a fusão entre a instituição gerida por ele mesmo e os bancos Laikí e Egnatia resultou num novo sujeito (Marfin Egnatia Bank), que se tornou na subsidiária do grupo cipriota em território grego até a sua absorção ocorrida em 2011. Em Março de 2010, "Marfin Investment Group" emitiu um bônus pelo valor de 252 milhões de euros, que atraiu principalmente o interesse de empresas relacionadas com Vgenopoulos e o todo-poderoso Presidente do Banco do Pireu Michalis Sallas. No mundo das finanças a troca de favores é uma prática comum: uma auditoria encomendada pelo Conselho de Administração do Cyprus Popular Bank ao longo de 2012 certificou que no ano anterior Vgenopoulos tinha autorizado um empréstimo de 113 milhões de euros de modo a que Sallas pudesse aumentar as suas quotas de capital no Banco do Pireu. O dinheiro foi depositado em três empresas offshore (empresas localizadas em países com baixo nível de tributação a fim de ocultar a identidade de seu proprietário) cujos titulares eram Sallas e seus dois filhos. Desta forma, um conluio entre amigos com interesses comuns foi suficiente para destruir um País inteiro com a passividade do ex-Governador do Banco da Grécia Georgios Provopoulos (2008-2014), que precedentemente tinha ocupado as funções de Vice-Presidente do Banco do Pireu.

E a política? Em seu papel de espectadora, sem nenhum poder de decisão.



Antonio Giovetti 


Imagens: pseka.com, www.goldnews.cy



Fontes:

http://www.thepressproject.gr/article/73440

http://www.tovima.gr/finance/article/?aid=504372

http://www.expansion.com/agencia/efe/2013/04/22/18287002.html

http://www.nytimes.com/2013/06/11/business/global/a-wily-banker-reaches-the-top-in-greece.html?pagewanted=all&_r=2

http://kathimerini.com.cy/index.php?pageaction=kat&modid=1&artid=136855

http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-%2F%2FEP%2F%2FTEXT%2BWQ%2BP-2015-004670%2B0%2BDOC%2BXML%2BV0%2F%2FEN&language=ET

https://todossomosgriegos.wordpress.com/2013/02/04/grecia-pasok-y-nd-ante-la-autoridad-judicial-para-que-expliquen-su-enorme-deuda-el-escandalo-del-banco-agricola/

http://directnews.gr/economy/26299-hot-doc-o-attilas-3-exei-prosopo-trapezith.html

http://www.reuters.com/article/2012/07/16/us-greece-banks-idUSBRE86F0CL20120716

http://economico.sapo.pt/noticias/bcp-assina-acordo-para-vender-o-millennium-na-grecia_167543.html

http://www.bankofgreece.gr/Pages/el/Bank/Organization/governingbodies/provopoulos.aspx









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